Que atire a primeira pedra aquele que NUNCA sofreu algum tipo de descriminação. Seja ele de origem racial, eclesiástica, sexual, relativo à classe social ou até mesmo à nacionalidade do indivíduo, o preconceito está presente em nossa sociedade desde SEMPRE.
Hoje em dia tornou-se comum assistir à reportagens que exibem diversos tipos de agressões, tanto físicas quanto morais, idealizadas em função de pensamentos preconceituosos. Contudo, essa situação não é atual; apenas tornou-se mais explícita, mais COMUM. Reflita: ao sofrer, ou até mesmo ao assistir a algum caso do tipo, você já parou para pensar sobre o porquê disso tudo ou até mesmo tentar interferir na situação? A provável resposta será “não”.
É normal passarmos por certas adversidades no dia-a-dia e não entendermos direito o porquê daquilo tudo ou não agirmos; porém, nem todos procuramos compreender a situação e/ou tentar revertê-la, o que faria com que muitos destes problemas fossem, no mínimo, parcialmente resolvidos.
A partir destas circunstâncias introduzimos a ideia do projeto: situação cotidiana e escola – como as matérias transmitidas em classe explicam o modo com o qual o preconceito afetou e ainda afeta a sociedade ao longo dos anos? Por que a situação chegou a tal ponto? De onde surgiu tal ideologia? Pode até parecer estranho, entretanto, questões como estas se passam pela mente da maioria dos estudantes nos dias de hoje; não obstante, o que muitos mal se lembram é que as respostas podem estar bem diante de seus olhos, sendo explicadas pelo professor.
Assim, apresentando esta concepção, pretendemos deixar ainda mais clara a relação entre o ensino teórico e a explicação de tudo aquilo o que vivemos no dia-a-dia. Por conseguinte, segue agora uma breve dissertação de sobre como a História e a Sociologia aplicadas na escola de hoje interligam-se diretamente com o auxílio na hora do entendimento das consequências do preconceito para a humanidade e de suas possíveis resoluções.
Preconceito – Origem, progressão e atualidade: A História explica, a Sociologia define
O que é o preconceito?
Preconceito é a convicção de que determinadas características físicas, condições financeiras, opções eclesiásticas e sexuais ou até mesmo a nacionalidade do cidadão (entre outros motivos) determinam também os traços de caráter, capacidade e inteligência do mesmo. A base do racismo é o conceito de “pureza” aplicada aos homens, não focado apenas na cor da pele, mas também em outros aspectos, como os já citados acima. Não se trata de uma teoria científica, mas de um conjunto de opiniões muito pouco coerentes.
No caso do chamado preconceito racial (ou simplesmente racismo), a ideia surgira da concepção das chamadas raças puras, superiores às demais; tal superioridade autoriza uma hegemonia política e histórica, pontos de vista contra os quais se levantam objeções consideráveis, afinal, quase todos os grupos humanos atuais são produto de mestiçagens.
Surgimento e disseminação
A história da humanidade refere-se, desde os tempos mais antigos, à relações decorrentes das migrações, entre povos racialmente distintos. No entanto, antes da época de expansão das nações européias, as relações raciais não apresentavam a feição que mais tarde as caracterizaria.
Entre egípcios, gregos e romanos, as relações vigoravam indiferentemente, mesmo com povos a eles semelhantes; já durante toda a Idade Média, a base da rivalidade entre povos era, sobretudo, religiosa e, ainda nos primeiros contatos entre portugueses e africanos, não havia nenhum atrito de ordem racial.
Entretanto, a partir do Renascimento, quando o progresso técnico permitiu à Europa “dominar” o mundo, surgiram diversas ideologias que pretenderam explicar e justificar a subserviência dos demais continentes pelos países europeus, alegando existir na Europa uma raça superior, destinada por Deus ou pela história a dominar as raças não-européias, consideradas inferiores. A expansão espanhola na América buscou sustentação ideológica em crenças tais como as de que os americanos e índios não eram verdadeiros seres humanos, o que justificaria sua exploração e, concomitantemente, o surgimento da chamada escravidão.
Mais tarde, tal ideologia fora convertida em programa político pelo Nazismo. A perseguição dos judeus e a escravização de povos da Europa oriental em nome da superioridade da pretendida raça ariana resultou, por suas atrocidades, na adoção pela opinião pública mundial de critérios opostos ao racismo, a partir do final da segunda guerra mundial.
Ramificações do preconceito: O Holocausto e a Escravidão
Origens do Holocausto
Holocausto é o termo utilizado para descrever a tentativa de extermínio dos judeus na Europa nazista, durante o governo de Adolf Hitler. Segundo o discurso do político, eram estes os maiores culpados por impedirem o processo de eugenia étnica defendido por sua ideologia.
Tal ideia partia do princípio de que a Alemanha deveria superar todos os entraves que impediam a formação de uma nação composta por seres superiores. Dessa forma, para que a supremacia racial ariana*fosse conquistada pelo povo alemão, Hitler passou a pregar o ódio contra aqueles que impediam a “pureza racial” dentro de seu território.
Assim, dado o início da Segunda Guerra, o governo nazista criou campos de concentração onde os judeus eram forçados a viver e trabalhar em condições insalubres, com péssima alimentação, sofrendo torturas e sendo utilizados como cobaias em experimentos científicos.
Entretanto, apesar do foco estar voltado, neste acaso, apenas para a questão do povo judeu, é importante lembrar que o regime nazista perseguiu também uma série de outros grupos sociais, tais como ciganos, homossexuais, opositores políticos de Hitler, doentes mentais, pacifistas e grupos religiosos.
Consequências do Holocausto para o povo judeu
Quando foram liberados, após o fim do holocausto, muitos sobreviventes tiveram medo de retornar para suas casas devido ao anti-semitismo que ainda existia em partes da Europa, e também pelo trauma que haviam sofrido, que os deixava inseguros.
Sem ter para onde ir, uma vez que não mais tinham onde viver e trabalhar, dezenas de milhares de sobreviventes, oriundos do leste da Europa, ficaram desabrigados, tendo que migrar para países do oeste europeu que já haviam sido liberados. Muitos outros refugiados emigraram também para o Canadá, Austrália, México, Argentina e outros países latino-americanos, bem como para a África do Sul e, mais tarde, para Israel.
Segundo analistas, se não houvesse o Holocausto, o número de judeus estaria entre 25 e 35 milhões em todo o mundo e muitos deles viveriam na Europa; porém, com a disseminação da ideologia nazista, estes foram reduzidos excessivamente, além de sofrerem preconceito até os dias de hoje por parte dos denominados neonazistas, seguidores contemporâneos dos ideais de Hitler.
Os judeus nos dias de hoje
Mesmo depois de todo o sofrimento e de toda a perseguição causada aos judeus, grande parte deste povo vive hoje em condições pacíficas e praticamente livres do preconceito em diversas partes do mundo, conservando à risca o apego à sua religião, ou seja, às suas tradições e ao legado de sua história, apesar da secularização e do liberalismo que agora predominam em suas instituições. Atualmente, o estado de Israel é o que concentra o maior número de adeptos ao judaísmo.
* Raça Ariana: uma antiga raça que, na teoria de etnólogos europeus do século XIX, tinham pele branca e deram origem à civilização europeia, relativamente mais poderosa que as demais ao longo da história.
Links recomendados:
Site do United States Holocaust Memorial Museum – Página com diversos testemunhos de sobreviventes do holocausto.
Goisrael.com - Link em site de turismo, para quem desejar saber um pouco mais sobre a história do povo judeu.
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Origens da escravidão
A origem da escravidão se perde nos tempos, aproximando-se das origens da própria civilização humana. Segundo os antropólogos, em um determinado momento da pré-história os homens perceberam que os prisioneiros de guerra - normalmente sacrificados em cultos religiosos - poderiam ser usados para o trabalho ou "domesticados" como animais.
Nas civilizações da Antigüidade - Egito, Babilônia, Grécia, Roma, etc. - a escravidão era uma prática constante. Somente na Idade Média, com a reestruturação da sociedade europeia de acordo com a ordem feudal, a escravidão foi substituída pela servidão, uma forma mais branda, por assim dizer, do trabalho escravo.
Em termos mundiais, esta prática ressurgiu com o capitalismo comercial, concomitantemente à época das grandes navegações. O uso da mão-de-obra escrava - em especial do negro africano e do índio, no caso do nosso país - desenvolveu-se nas colônias de além mar de países europeus como Espanha, Portugal, Holanda, França e Inglaterra.
Consequências refletidas na sociedade atual
As conseqüências da escravidão se fazem presentes ainda hoje na sociedade brasileira. Elas não só se limitam às desigualdades sociais, mas também permeiam muitas ideias falsas e preconceitos os quais, muitas vezes, passam despercebidos por nós.
Quando houve a libertação dos escravos, os antigos latifundiários preferiram empregar pessoas estrangeiras; além disso, os negros, cansados do cativeiro, só pensavam em deixar as fazendas. Alguns até queriam ficar, mas foram mandados embora. E o que aconteceu a eles? Ficaram sem emprego, sem ter onde morar e sem ter o que comer. Para sobreviver aceitavam, da mesma forma que antes, os piores trabalhos possíveis; com o pouco que recebiam tinham que comprar alimento, vestimenta e pagar moradia, coisas que, no cativeiro, embora não fossem do melhor, eles tinham.
Dessa forma nascia uma população livre e, ao mesmo tempo, excluída socialmente, que, hoje, representa uma das características mais marcantes do nosso país. Como heranças sociais deste descaso, existem no Brasil inúmeras áreas carentes que são formadas por descendentes dos antigos escravos, índios e negros. São favelas ou áreas alagadiças, que não oferecem uma estrutura adequada para habitação.
Cotas universitárias
Um dos assuntos mais debatidos nos dias de hoje é a questão das reserva de vagas universitárias para negros e índios em nosso país. Como a maioria da população já tem conhecimento, as chamadas cotas fazem parte de uma política oficial nascida de um Projeto de Lei, que estabelece um sistema de reserva de vagas para universidades públicas, baseado no desempenho escolar dos alunos do Ensino Médio.
O sistema funciona basicamente desta maneira: de 100% das vagas, 50% são destinadas para quem cursou o Ensino Médio em escolas públicas. Dentro desse percentual, são reservadas vagas a alunos que se declararem negros ou índios, em uma proporção igual à população de negros e indígenas em cada estado brasileiro.
O verdadeiro objetivo desta política é democratizar o acesso ao Ensino Superior com base em critérios raciais, já que estudos recentes de distribuição de renda no país mostram que a população negra e os povos indígenas têm sido sistematicamente excluídos da sociedade brasileira ao longo da história, com já antes dito.
Todavia, uma razoável parcela da população mostra-se descontente diante dessa situação. Muitos negros, indígenas e até mesmo descendentes de tais povos sentem-se descriminados pelo fato de obterem “vantagem” sobre os demais em função de suas origens, alegando que tal medida os rotula como inferiores apenas por questões raciais, o que caracteriza uma forma explícita de preconceito; porém, se analisarmos minuciosamente as razões para a aplicação das cotas, conseguiremos enxergar o quanto tais reservas fazem sentido, afinal, é uma forma que a Nação encontrou de “recompensar” os povos negro e indígena por sua época de escravidão no país, que acabou se refletindo (em certos casos) em suas condições sociais presentes, um tanto inferiores financeiramente quando comparadas aos padrões gerais, como mostram dados do IBGE.
Apesar disso, muitos estudantes de outras descendências também não se conformam com o sistema; estes, por sua vez, sentem-se prejudicados ao olharem a situação de outros pontos de vista: “Qual a diferença entre um negro pobre e um branco igualmente desprovido? Por que eu, que também não tive boas oportunidades e condições, tenho de encontrar mais dificuldades do que ele em relação ao ingresso nas faculdades públicas?”, o que torna cada vez mais polêmico o assunto.
Não obstante, em grande parte dos casos, esta parcela da população pensa de tal modo apenas por falta de informação, ou seja, por não compreender ou até mesmo não conhecer os fatores históricos que resultaram na adoção de tal circunstância, o que torna o debate ainda mais irracional.
Em vista de tais colocações, propomos a vocês leitores uma breve reflexão: se o interesse pelos estudos ou até o próprio sistema de ensino em nosso país melhorasse, grande parte da população compreenderia melhor tanto este quanto outros assuntos citados anteriormente, o que acabaria com boa parte do sentimento de preconceito e boa parte das discussões dispensáveis.
Sendo assim, por que não aceitar que escola e cotidiano caminhem juntos? O ensino hoje em dia, como já antes dito, é a principal ferramenta não só para o ingresso em uma boa faculdade, mas também para a formação de melhores cidadãos; tudo o que se aplica no espaço escolar é útil para o futuro do aluno ou, do contrário, simplesmente não seria transmitido, não concorda?
Links recomendados:
Fórum UOL - Link direcionado ao debate e à exposição de ideias sobre o sistema de cotas universitárias.
Site da UFPA - Entrevista concedida pela Antropóloga e professora da UFPA Marilu Campelo, onde se discute também a questão das cotas universitárias.
Por Anna Oliveira